Wlaumir
Souza
Dentre as principais crenças
estimulas em nossas mentes está a importância da família para se criar/educar
crianças sadias e equilibradas. Talvez, esta ideia seja a que receba maior
investimento econômico de modo direto ou transversal. Publicidades, filmes,
novelas, livros didáticos e de autoajuda, igrejas, governos, associações civis,
etc diariamente abordam a questão de modo explícito ou subliminar.
Nesta rotina da família normal –
enquanto pai, mãe e filhos; melhor ainda se for extensa, tios, avós, primos e
genealogias de casamentos oficiais – a expressão “família estruturada” ganhou um
quilate de verdade obsceno a ponto de se culpar outras formas de arranjos familiares;
mais que isto, no discurso conservador e no retrógrado, seriam a causa dos
problemas da/na sociedade com seus filhos “problemáticos”.
A “família desestrutura”, no campo
dos imaginários construídos – e fartamente criticado pelos críticos destes
modelos normalizadores dos modos de amar, ser e estar – seria não casada; não
branca e pobre. Um sinal desta vertente se vê, por exemplo, quando a família de
classe média branca se separa e se recompõe por diversas vezes com seus filhos
e agregados por afinidade. Neste ponto, a família denunciada como desestruturada
ganha a alcunha de “crise”. Mas, se for pobre, negra – ou outras etnias
estereotipadas ou de religiões que sofrem discriminação – a recomposição é
criticada de modo mais amplo e explícito.
A não aceitação pública da possível execução
dos familiares de Marcelo Pesseghini, de 13 anos, por ele mesmo, é o maior
flagrante da sociedade racista e classista em que vivemos. A família branca, de
classe média, - e, possivelmente, seguidora de Cristo – não produziria
assassinos mirins. É isto que querem acreditar e fazer verdade ao negar a
possibilidade de Marcelo Pesseghine ter executado o pai, a mãe, a avó materna e a tia-avó.
Se os familiares executados fossem
pobres e negros, árabes e muçulmanos, até que ponto a sociedade “leitora” de
classe média reagiria negando esta possível realidade? Até que ponto o
pensamento reativo seria estimulado? Ou, haveria contribuição na redução dos
estereótipos negativos dos negros e pobres e outras etnias?
A
resposta é simples? Estaria bem debaixo de nossos olhos apesar da cifra
incalculável que é investida para ocultar os laços de violência familiares? É
uma questão de querer ver o inevitável para além do espelho que reflete apenas
o ego narcísico de uma sociedade de classe média branca que nega suas mazelas e
as jogas para os que se pretende excluir, explorar e executar sumariamente,
como na proposta da redução da maioridade penal; pensam que atingirão apenas o
outro; engano medonho, atiram no próprio pé por não defenderem os Direitos
Humanos e o bem-estar social universalizado.