segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Família: sociedade anônima ou o problema “Família Pesseghini”.




Wlaumir Souza

            Dentre as principais crenças estimulas em nossas mentes está a importância da família para se criar/educar crianças sadias e equilibradas. Talvez, esta ideia seja a que receba maior investimento econômico de modo direto ou transversal. Publicidades, filmes, novelas, livros didáticos e de autoajuda, igrejas, governos, associações civis, etc diariamente abordam a questão de modo explícito ou subliminar.

            Nesta rotina da família normal – enquanto pai, mãe e filhos; melhor ainda se for extensa, tios, avós, primos e genealogias de casamentos oficiais – a expressão “família estruturada” ganhou um quilate de verdade obsceno a ponto de se culpar outras formas de arranjos familiares; mais que isto, no discurso conservador e no retrógrado, seriam a causa dos problemas da/na sociedade com seus filhos “problemáticos”.

            A “família desestrutura”, no campo dos imaginários construídos – e fartamente criticado pelos críticos destes modelos normalizadores dos modos de amar, ser e estar – seria não casada; não branca e pobre. Um sinal desta vertente se vê, por exemplo, quando a família de classe média branca se separa e se recompõe por diversas vezes com seus filhos e agregados por afinidade. Neste ponto, a família denunciada como desestruturada ganha a alcunha de “crise”. Mas, se for pobre, negra – ou outras etnias estereotipadas ou de religiões que sofrem discriminação – a recomposição é criticada de modo mais amplo e explícito.

            A não aceitação pública da possível execução dos familiares de Marcelo Pesseghini, de 13 anos, por ele mesmo, é o maior flagrante da sociedade racista e classista em que vivemos. A família branca, de classe média, - e, possivelmente, seguidora de Cristo – não produziria assassinos mirins. É isto que querem acreditar e fazer verdade ao negar a possibilidade de Marcelo Pesseghine ter executado o pai, a mãe, a avó materna e a tia-avó.

            Se os familiares executados fossem pobres e negros, árabes e muçulmanos, até que ponto a sociedade “leitora” de classe média reagiria negando esta possível realidade? Até que ponto o pensamento reativo seria estimulado? Ou, haveria contribuição na redução dos estereótipos negativos dos negros e pobres e outras etnias?

A resposta é simples? Estaria bem debaixo de nossos olhos apesar da cifra incalculável que é investida para ocultar os laços de violência familiares? É uma questão de querer ver o inevitável para além do espelho que reflete apenas o ego narcísico de uma sociedade de classe média branca que nega suas mazelas e as jogas para os que se pretende excluir, explorar e executar sumariamente, como na proposta da redução da maioridade penal; pensam que atingirão apenas o outro; engano medonho, atiram no próprio pé por não defenderem os Direitos Humanos e o bem-estar social universalizado.