Wlaumir Souza
Durante a
campanha eleitoral de 2014 vi, ouvi e li muitas manifestações dos que estavam
na oposição a reeleição de Dilma R., que contradiziam um dos principais pontos
do pensamento de K. Marx – a dialética. Assim, assisti, impressionado, ao fato
de que não poucas pessoas – do cidadão comum, passando por políticos
profissionais a acadêmicos (de universidades públicas e privadas) que
condenavam a posição de contrapor “ricos e pobres”, a classe dominante e a
dominada e afirmavam que neste ponto o Partido dos Trabalhadores faziam um
desserviço à nação. Mais impressionado fiquei ao notar que alguns destes
acadêmicos provinham das mesmas faculdades que outrora legitimaram ou
trabalharam para o “bom governo militar”.
Outro ponto
que me chamou a atenção foi os não poucos cidadãos que ao se manifestarem via
redes sociais diziam ter ido à rua, no meio do ano passado, para a “mudança”. Não
poucos destes entendendo a mudança como o sufrágio do candidato Aécio Neves que
historicamente representa, via PSDB, o Estado neoliberal. Assim, numa amnésia
quase que coletiva esqueciam-se que as manifestações iniciaram exigindo o
transporte livre e gratuito o que remete a maior intervenção do Estado na
economia e nos avanços das políticas públicas de distribuição de renda pelos
mais diferentes canais não de cidadania via consumo, mas, antes de cidadania
social. Os acima citados, trabalhavam pelo ocultamento das contradições sociais
e políticas buscando construir o candidato Aécio N. como o porta voz da unidade
nacional sem as “disputas” de classe democráticas.
Encerradas as
eleições o sonho de uns se realizaram e o pesadelo de outros se iniciava. E,
com isto o foco da contradição que interessa. Neste ponto, a quem mais
interessava a contradição vem a convocação para a “harmonia” das classes. Os
que outrora queriam a “massa indiferenciada” clamam pela diferença ontológica.
Nada como o tempo e o espaço para o desvelamento dos interesses e das auto representações
demonstrando que o que parecia pensamento crítico se torna ideologia e
alienação e o que poderia ser ideologia e alienação busca se tornar pensamento
crítico? Assim, a diferença entre o Brasil que se pinta na campanha depende de
se estar no poder ou na oposição a este.
Assim, findas
as eleições o PT fez um chamamento para o diálogo – dialética – para se chegar
a uma síntese de governabilidade, o que, poderia ser, mais uma vez entendido,
como a abertura de mão dos trabalhistas de sua agenda programática histórica em
favor da manutenção do poder pelo poder que se legitima via parcas políticas
sociais de distribuição de renda sem alterar de fato a pirâmide social visto
que foi regiamente financiado pela capitalista financeiro e corporativo.
Do ponto de
vista dos tucanos vencidos, a contradição que irrompeu foi aquela de Jacques
Lambert em Os dois brasis (1957). Ironia
do destino, exatamente isto que o PSDB e o DEM negaram durante seu reinado,
digo, governo federal. Esquecendo-se de que Aécio N, fora derrotado em seu
berço político e no Rio de Janeiro (local preferido para os passeios rotineiros
do ex-candidato a presidente) querem assinalar a vitória num binarismo simplório
entre o norte/nordeste pobre financiado pelos “bolsas” do governos federal e o
sul/sudeste “rico e intelectual que pugna pela honestidade e transparência”.
Aliás, estas podem ser vistas no Estado de São Paulo que não vê avançar as denúncias contra o governo? Por outro
lado, esquecem-se que tudo o que fizeram no passado foi tentar apagar do Brasil
a Belíndia descrita por Edmar Lisboa Bacha.
Neste ponto
entramos na contradição suprema que revela a vitória parcial das manifestações
do ano passado? Enquanto as agências internacionais “humanitária” aplaudem o
sucesso das “bolsas” os agentes do capital internacional não cessam os ataques
à bolsa e ao dólar no Brasil visto que tudo que interessa é o neoliberal do “sula
maravilha”? Isto sem contat o racismo nada cordial que irrompeu numa revelação de que temos muito o que fazer pelos "Dois Brasis".
Texto interessante. Concordo com você quando critica o binarismo simplório alimentado pela imprensa nacional e que expande esta leitura para o resto do mundo, lamentavelmente. Como se esse simplismo explicasse a decisão dos eleitores brasileiros que referendaram o mandado da Presidenta Dilma por mais 4 anos. O drama da oposição é não conseguir construir inteligentemente uma explicação que convença a si própria a sua derrota. E ai, sobram esses excessos simplistas e simplórios que de tão repetidos parecem convincentes,para quem ?
ResponderExcluirOla, parabens pelas reflexao, gostei e postei em:
ResponderExcluirhttps://edsonjnovaes.wordpress.com/2017/12/29/yazemeenah-rossi-modelo-artista-vitalidade/
Disponivel: 16 jan 2018 - 16:00
Obrigado