sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A palavra do ano de 2017: RETROCESSO

Enquanto para o senso comum, via votação pela internet, a palavra do ano é corrupção, defendo que a palavra do ano acadêmico é retrocesso, bem como para as políticas públicas, as relações de trabalho, a igualdade de gênero e de etnias tudo isto devidamente azeitado pelo pensamento e governo conservadores, para não dizer retrógrados. O atraso teima como parte de nossa matriz cultural política e um governo conservador do PMDB só fez crescer esta vertente cultural face aos progressivas quer na arte, na política(s) ou na economia.
Enquanto na Europa, do século XVI, o velho pacto entre Igreja Católica e Estado estava no início de sua lenta e progressiva decadência face ao secularismo e a laicização patrocinadas pelas raízes da ciência e até mesmo pela reforma protestante de Martinho Lutero, 31 de outubro de 1517; no Brasil, o velho modelo religioso de origem medieval era patrocinado via padroado. Este era um acordo político entre Roma e o Rei de Portugal onde caberia ao Estado o mando e o patrocínio sobre a Igreja local do Brasil.
Na Europa este tipo de acordo, que andava de mãos dadas com a compra de indulgências para salvar as almas, era criticado por aquilo que se chamaria depois, ao longo da história, por liberalismo construído em boa medida por burgueses e intelectuais laicos. A Europa mercantilista que se baseava no metalismo encontrou uma nova força para a sua prosperidade, a burguesia e o protestantismo, e iniciava o abandono das forças então retrógradas da nobreza aliada a Igreja e suas superstições que depreciavam o saber acadêmico, quando não o perseguiam.
A burguesia enquanto classe ainda não se fazia presente, mas seus germes eram em favor da dinamicidade econômica que se demonstrava cada vez mais viável via expansão marítima e da educação. Mas, para conseguir tal feito era necessária a aliança com a nobreza retrógrada, sobretudo no que tangia às colônias que deveriam ser profundamente exploradas em sua alma e corpo, e com as igrejas que controlavam os colégios via mosteiros e conventos. Mas, muito mais que isto, a burguesia precisava do que se chamaria depois de classe média – pessoas que sabiam ler, escrever e contar e para esta expansão o protestantismo foi fundamental ao defender a livre interpretação das escrituras que pressupunha o saber ler. Ou seja, em boa medida o protestantismo não se destinava aos mais pobres e ignaros.
Neste sentido, embora à burguesia europeia fosse mais proveitoso a aliança com intelectuais laicos e pesquisadores práticos, no Brasil a melhor aliança para a manutenção da ordem escravista e escravocrata era com a Igreja Católica, esta a mãe perfeita para o projeto explorador.
Não se abriram universidades no Brasil Colonial e os poucos afortunados que podiam enviavam seus filhos para estudos em Portugal onde conheciam as ideias burguesas que via de regra não colocariam em prática no Brasil consolidando nosso discurso metafísico do direito enquanto a política prática chafurda com os podres poderes da corrupção.
Para manter o atraso da Colônia o melhor caminho era a aliança com a Igreja que entrava em decadência na Europa, a Católica, face aos protestantes que flertavam em público com o Estado mercantilista, o metalismo, a matemática e o lucro da burguesia como práticas que evidenciavam as bênçãos de Deus. Invertia-se o discurso da Igreja Católica de usura e com isto protestantes colaboravam com os avanços do que se chamaria liberalismo econômico.
Da Colônia ao Império o padroado foi mantido e com ele todos os acordos com a Igreja Católica que garantiam os atrasos das gentes do Brasil e o controle via educação de conventos e mosteiros do pensamento das camadas favorecidas.
Apenas com a República e a tomada do poder por certos liberais e positivistas que a ciência passou a ter maior oportunidade no Brasil e, mesmo assim, apenas na década de 1930 inicia-se o projeto USP no Estado que se considerava a Locomotiva econômica e cultural, São Paulo, mas mantendo o acordo de educação de jovens nos colégios católicos, poucas eram as escolas laicas e secularizadas que poderiam fazer avançar a educação científica e suas práticas e valores.
Nestes moldes do projeto USP que se espraiaria lentamente pelo Brasil via universidades estaduais e federais, o liberalismo oligárquico branco e masculino mantinha-se como fundamento das ações e estratégias de poder da burguesia que fazia uma dicotomia entre a cultura de elite letrada e a popular de corpo religioso. Aos filhos dos bem nascidos economicamente ou mesmo intelectualmente estava destinada uma vida tranquila na academia mantida pelo Estado e na antessala da educação patrocinada pela Igreja Católica. Não por acaso que a única grande universidade privada do Brasil a conseguir fundos do Estado para educação foi a PUC.
Este projeto oligárquico de poder intelectual aliado ao poder econômico não fazia sombra ao velho projeto de dominação e controle social via religião recheada de preconceitos e discriminações implantados na Colônia, mantido no Império e dicotomizado na República. Mas a dicotomia entre os mais pobres educados pra fazer e obedecer e os melhores aquinhoados economicamente e educados para pensar e mandar apenas se aprofundou ao longo dos anos via saber universitário.
A sombra neste projeto de poder foi estabelecida pelo avanço sem precedentes da educação técnica e universitária sem no governo federal do Partido dos Trabalhadores. A expansão das vagas universitárias públicas fez avançar de modo reformado e reestruturado o projeto USP de uma elite intelectualizada e secularizada ultrapassar as fronteiras de classe e com isto vazar para a sociedade mais ampla, em especial, para os mais pobres, negros e LGBTTT.
Isto era e é um risco para o poder tradicional burguês do Brasil que via na religião seu modus operandi de controlar e explorar os mais pobres e o País. Para além das camadas médias que serviam de bom grado às elites em troca da vida tranquila e previsível economicamente, outras ascenderam à universidade e com isto ao pensamento laico e secularizado de padrão historicamente burguês, mas agora, sobretudo buscando romper os laços com o “colonialismo” tergiversado na República.

Frear tais forças de transformação social demonstraram-se urgente ao projeto oligárquico que se esboroava. Deste prisma, precarizar para desmontar as universidades públicas e as escolas técnicas federais passou a ser urgente para evitar a circulação das elites no Brasil, ao mesmo tempo que se corta a subvenção das faculdades privadas via bolsas de estudos. Havia agora uma massa crítica de doutores capazes de criticar a dependência e a corrupção, a mesma que fez o projeto Dilma Roussef naufragar.
Para tanto foi-se de encontro as forças mais conservados disponíveis na religião de fundo tradicionalista e dos evangélicos, estes mais subproduto que herdeiros do protestantismo, mas, no Brasil, inversamente mais conservadores e menos liberais; e especializados em “vender indulgências”, agora, para salvar o corpo, em paralelo a tudo isto, a aliança com as forças do agronegócio.
Desmontar os avanços da educação crítica, laica e secularizada tornou-se urgente para a burguesia brasileira e seus políticos de plantão uma vez que com a pesquisa avançada via inteligência nacional desconstruíam o poder dominante. Para além disto desmontar a pesquisa de ponta realizada nos laboratórios do Brasil em favor das forças neoliberais a que servem no plano internacional.
Enquanto a Europa buscou e busca avançar na laicização, na secularização e na aliança entre ciência e burguesia, o Brasil parece fazer o caminho inverso tomando a burguesia a ciência como uma opositora ao seu  poder. Talvez, isto se dê pelas premissas diferentes de poder, enquanto os Europeus arduamente buscam manter sua autonomia e protagonismo global via unidade europeia e para isto o investimento na investigação científica é fundamental, o Brasil oligárquico e de caciques políticos parece não conseguir abandonar o colonialismo travestido de dependência. E, para isto a religião em seus moldes tradicionais é fundamental, pois, só acreditando que o sofrimento tem um papel fundamental na existência podemos continuar a nos submeter a super exploração.
Assim, dependência não no sentido defendido por Fernando Henrique Cardoso, mas, antes e sobretudo, no de Ruy Muro Mariane. Pois, enquanto na Europa nos momentos de crise se investe mais em ciência de ponta, por aqui o governo Temer e seus aliados desconstroem o espaço da ciência de qualidade em proveito da religião como forma de explicar o mundo e censurar da arte à escola.

Wlaumir Souza

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

República envergonhada

República envergonhada

Já não são poucas as pessoas que conheço que se arrependeram de ir às ruas contra o Governo Dilma Rousseff. A realidade do governo Temer tem se demonstrado mais temerária que os prognósticos de seus opositores. Espelhado por uma postura imperial que a todos compra não mais com títulos e prebendas, mas com cargos temporários e verbas, ao que tudo indica.
Num espelho fractal do Império, não se contentando em propor uma idade mínima de aposentadoria que nos igualaria a Lei do Sexagenário, Temer agora reelabora a lei de trabalho escravo. Não basta para ele ser trabalho análogo à escravidão. Tem de ser trabalho escravo ipsis litteeris , ou seja, a pior realidade possível onde a coação seja feita por grilhões.
A República se envergonha historicamente de tal Presidente que fará o Brasil ser repreendido pela Organização Internacional do Trabalho. Vergonha diante dos discursos republicanos democráticos que imaginavam-se livre do Leviatã que surge dos mares pobres de Brasília.
Como se não bastasse o retrocesso social, trabalhista e da cidadania, vivemos a realidade do discurso da honestidade na/da política travestido de ideologia - enquanto discurso que encobre a realidade da configuração de possíveis organizações criminosas em partidos políticos. Agora não mais dos que se dizem de esquerda, mas na direita tradicional que aceitou fazer par com a Arena para dissimular a Ditadura.  Neste vértice o retorno de Aécio Neves ao Senado seria o prenúncio da permanência de Temer na Presidência após a denúncia de Janot.

O Lebiatã vai tomando corpo. Sem constrangimento levantando-se do lamaçal de Brasília e seus apaniguados na firme certeza de que fazem o uso do público em nome dos interesses privados dos correligionários. E, mais, de tal forma que parece consolidar a fala de Romero Jucá: “Um grande acordo nacional com o supremo e tudo”. Onde as tentativas de punição seriam a farsa no sistema para consolidar a (des)ordem em favor dos donos na política.

Inesperada será uma eleição em 2018 que poderá responder, da forma mais legítima, para negar este pacto de caciques carcomidos pela história das denúncias de corrupção da direita que a classe médica em uníssono silencia panelas em nome da exploração do subemprego nos andares de baixo das camadas sociais.

sábado, 23 de setembro de 2017

Contradições que constrangem o Brasil

Contradições que constrangem o Brasil

Em meio ao processo social que culminou com o impedimento da Presidenta Dilma Rousseff, não poucas vezes, assistimos na poltrona da sala de casa, via televisão ou internet, os maiores abusos contra a dignidade da mulher, e em especial, da Presidenta sufragada, sem qualquer pudor ou consideração.
Destaco apenas alguns momentos emblemáticos. Quando no estádio em meio a Copa do Mundo em coro se mandou a Presidenta Dilma ir tomar no cu. Seguidamente, uma imagem da Presidenta com as pernas abertas fazendo do orifício de abastecimento de combustível como se fosse as partes íntimas sexuais, para serem penetradas pela mangueira de combustível.
Nos dois casos a alusão ao estupro coletivo enquanto corretivo para que ela ficasse no lugar que lhe cabia como mulher, qual seja a vida privada e não o espaço público e com poder. Ou seja, este local não seria a presidência da República.
Tais atitudes abusivas não foram condenadas por parte significativa dos militantes contrários ao governo federal PT. Pelo contrário, fazia-se política ao estilo de Machiavel com todo um discurso da honestidade contra aquilo que se convencionou chamar de esquerda, sendo na realidade Liberal Keynesiano.

Este discurso da honestidade revelou-se, com o tempo, estéril visto que as mesmas forças não se organizaram contra o Presidente Michel Temer acusado pela Procuradoria Geral  da República por duas vezes consecutivas, uma vez inclusive por formação de quadrilha o que desfiguraria por completo a questão do partido.
Assim, vemos o Brasil ser o que é, um País do statu quo onde o que se merece é medido pela origem de classe, raça e gênero. Assim, mulheres, negros e homossexuais e toda plêiade das variantes de gênero são excluídos e culpabilizados pelos males sociais sem clemência, mesmo que para isto use-se meios imorais nas ruas vendo os carros adesivados ou no estádio ou via televisão do coro estuprador.
Neste contexto de moral machista, sexista, patriarcal, racista e classista não é de se estranhar que a exposição “QueerMuseu: cartografias da diferença na arte brasileira” tenha sido na visão da direita boicotada e na visão dos progressistas censurada a ponto de ser fechada pela instituição financeira que a exibia.
Bem aos moldes do que faz o Brasil, Brasil, a manutenção do statu quo em detrimento dos direitos de cidadania, o que mais assustou na exposição foi ver que artistas renomados e, alguns históricos, como Portinari, já haviam se embrenhado pelo mundo Queer quando este ainda nem era pesquisado como manifestação humana livre e sadia desde a infância.
Mais, que isto, escancarava as frestas das portas e janelas para evidenciar que o mundo Queer sempre este aí e um de seus usufrutuários era o homem quase imaculado em sua macheza excludente. Este desvelamento não poderia ocorrer no Brasil do statu quo onde a maior parte dos gays está casada e com filhos, por vezes numa vida dupla onde a mulher é cúmplice por medo de perder o statu quo de casada em uma sociedade machista e patriarcal e sexista.
Romper com o statu quo do/no Brasil seria arrombar com as aparências de uma civilização que não passa de um verniz, de uma doutrinação vazia, uma vez que as maiores vitimas de violência e morte são as mulheres, por seus próprios parceiros, aparentados ou conhecidos; os negros, via polícia na periferia e luta pelo controle de áreas; e os gays sendo sistematicamente assassinados a ponto de nos colocar como campeão mundial de produção de vítimas. É uma guerra civil não declarada onde apenas o homem, branco e heterossexual continua sendo o favorecido e privilegiado.
Neste ponto a posição do juiz que legitima a “cura gay” é apenas a cereja do bolo da discriminação, exploração e controle aviltantes das minorias que merecem todo o respeito na Democracia ou mesmo fora dela, em favor do statu quo que nega a cidadania plena a tod@s @s Cidadãos.
E, por isto mesmo já nos perguntamos: haverá eleições em 2018 com este projeto liberal conservador autoritário em curso crescente?


quinta-feira, 15 de junho de 2017

Cláudia Cruz e Adriana Ancelmo: Belas, recatadas e do lar

O projeto conservador cristão é eminentemente patrialcal e revela o emaranhado de armadilhas conceituas que pululam nas mentes ocidentais. Vítimas de si próprios, pensam um mundo que não deveria existir mais, pois baseado na retirada de oportunidades de igualdade para todos e todas.
Uma destas armadilhas conceituais pode ser vista no desfecho do processo que inocentou as esposas de Eduardo Cunha e Sérgio Cabral, respectivamente Cláudia Cruz e Adriana Ancelmo. O mote da absolvição orbita ao redor da definição e das tradições patriarcais que chegam ao século XXI não mais no formato da lei, do Estado, mas no imaginário e nas representações dos funcionários do Estado que dizem ser isentos.
Na mente patriarcal cabe ao marido, enquanto provedor, a tudo dominar, controlar e explorar indo dos animais, passando pelos empregados (onde o abuso sexual é uma prática reinventada de geração em geração), filhos à esposa e demais dependentes. Todos devidamente subjugados pelo poder do macho, mantenedor da ordem e dos costumes em conformidade aos padrões morais dominantes, tradicionais e tradicionalistas, legitimado socialmente, não mais pelo aparato legal, de forma explícita, mas pelo poder do imaginário e das representações sociais que se articulam em verdadeiras armadilhas conceituais que oprime às minorias nas formas das práticas discursivas.
Mas, apenas dominar, controlar e explorar levaria à união das minorias contra a maioria opressora e controladora. Cabe dividir as minorias para governa-las e expropria-las e faz-se isto com diferentes formas de benesses aos que se subjugam ás práticas culturais patriarcais: da distinção social ao salário.
Neste ponto Adriana Ancelmo e Cláudia Cruz interpretaram seu papel social esperado pelo projeto conservador em curso no país, e que tem no anti-petismo apenas um de seus vértices. Mas, não apenas ou exclusivamente ali, mas por boa parte da toga que ainda permanece machista, racista, sexista, homofóbica cometendo crimes perfeitos, uma vez que, insuspeitos pelas mentes conservadoras que se fazem surdas às denúncias das minorias do arcabouço doutrinário dominador e controlador.

Vejamos alguns crimes perfeitos: 1- Foi necessária a Lei Maria da Penha para minimizar a opressão do assassinato sistemático de esposas, amantes, namoradas e noivas. Minimizou, mas não resolveu. A mentalidade patriarcal continua grassando nos nas mentes dos que julgam e amenizam as penas. 2- Nem com a Lei do Crime de Racismo se extirpou tal prática do cotidiano e do judiciário. A reinterpretação sistemática da lei em favor dos que se consideram brancos, em meio à latinidade, abusando do colorismo como sistema de controle, fez com que só houvesse condenados por injuria racial no Brasil. 3- O assassinato sitemático de LGBTTT ainda não reconhecido pelo Estado na forma da lei parece compactuar com a licença para matar LGBTTTT tornando o Brasil campeão de mortes destes cidadãos.
Imbuídas desta mentalidade as esposas de Cunha e Cabral – e bem orientadas pela defesa que conhece as mentalidades conservadoras e patriarcais das togas – as colocaram para depor em meio a atuação da persona da boa esposa, da boa dona de casa, da mulher submetida ao poder do macho no papel de marido e provedor. Como abafaram-se, de bom grado, a penitência pública de igualarem-se às mulheres de classe média pré-feminismo, foi lhes concedido o beneplácito das vítimas que se subjugam ao projeto conservador patriarcal em curso. Este devota papel especial a mulheres “Bela, recatada e do lar” o espaço privado sob o controle do macho.

A advertência veio pelo ato de ostentar com gastos multimilionários o dinheiro que seria do povo. Afinal, são todos cristãos e a caridade – e não as políticas públicas e sociais – deve ser maior, no plano ideal da doutrinação e das culpas, que o consumo como meio de legitimar o ordem opressora denunciada pela ostentação.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Temer em xeque ou o declínio dos atores políticos em nome do Mercado

A ideia romântica dos filmes de guerra dos EUA de que nenhum homem ficaria abandonado, e que foi celebrada em várias películas que falam dos resgastes, celebra a ética de que nenhum ser humano é insubstituível. A realidade capitalista está bem distante deste ideário. Cada vez mais os atores, quer sejam sociais, políticos e agora econômicos, tornam-se descartáveis ou substituíveis em favor do projeto a que estão vinculados.
A própria fala de Aécio Neves que se deveria indicar alguém que fosse possível matar caso houvesse necessidade para manter a ordem das aparências “ilibadas” do projeto em curso, contra o avanço da justiça, demonstra que certos atores pensam ser insubstituíveis ao passo que outros facilmente o são. Ledo engano. Nesta ordem capitalista todos são alvos em nome do poder e do Deus Mercado.
 É neste enredo estruturante que se encontra o Presidente Temer, Rodrigo Maia, Aécio Nevez e todos os demais em nome dos avanços considerados por eles modernizadores do capitalismo e pelos progressistas como precarizadores das relações capital trabalho.O furo de reportagem do Globo contra Michel Temer demonstra que este, como aquele, Aécio Neves, tornaram-se descartáveis em nome do projeto modernizador do capital de precarizar as relações trabalhistas.
Mais que isto, demonstra que as elites capitalistas do Brasil acirraram a divisão entre si em suas esferas de projeto. Enquanto a fração de classe do capitalismo financeiro – aquele que Palocci quer delatar, e possivelmente jamais conseguirá fazê-lo no sistema judiciário – avança; o capitalismo produtivo – Tipo Odebrecht, JBS, OAS, entre outros donos do poder – tomaram consciência de que a tomada do poder de Estado não os contemplaria como desejavam via reforma trabalhista.
A reforma trabalhista minimiza a relevância do empresariado e faz avançar a esfera financiasta – Bancos entre outros agentes – na exploração daqueles. Neste sentido que coube a família Batista a luta pela sobrevivência segundo seus parâmetros de mercado. E, pela mesma razão a OAB, que apoiou a tomada de poder de Dilma, por Temer, protocola pedido de impedimento, abandonando o barco do qual fazia parte. O modelo da ordem produtiva estabelecida na reforma trabalhista também prejudica aos advogados.
Interessante notar que as disputas entre capital produtivo e financeiro advém da Primeira República do Brasil, como muito bem foi analisado pelo sociólogo, que negou seus escritos uma vez eleito Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.

Alguns poderiam dizer, mas não é tudo capitalismo. Não. As frações de classe também podem ser aplicadas aos capitalistas, aos burgueses que disputam entre si, embora possam em certos momentos estarem unidos, como o estiveram para derrubar Dilma Rousseff que se via constrangida pela realidade a fazer ajustes no modelo da economia que contrariaria aos capitalistas.
Neste quadro, Temer, por sua vez, não demonstrava mais poder para fazer avançar as reformas que interessavam ao capital, a previdenciária e a trabalhista, esta por sua vez dividindo as frações de classes dos capitalistas. Interessante notar que Temer fez tudo que a tradicional política brasileira realiza para aprovar leis: distribuiu cargos e verbas, além de jantares e almoços ao estilo do Império do Brasil para lustrar os egos, entre outros mimos.
Isto quer dizer que a crise institucional do País cresceu não apenas no terreno no político, mas, sobretudo entre os capitalistas que cada vez mias agem como se a democracia fosse desnecessária e mesmo um impeditivo de seus projetos. Unidos pela vialização da derrubada de Temer, não mais o estão no tipo de projeto modernizador do capitalismo e explorador do trabalho, visto que o capital financeiro quer assumir o poder sozinho sem os capitalistas produtivos. Seria a vitória de um projeto que se iniciou na Primeira República.
Afinal a modernização capitalista é para a precarização, é para ampliar a exploração, sempre, da fração de classe abaixo e nunca de si mesma. O capital produtivo trabalha para não ser a bola da vez junto com o povo, que viu seu voto ser surrupiado pelos corruptores agora chamados de delatores.

Se houver eleição indiretamente, esta refletirá mais que a democracia, mas, qual fração de classe está no poder e se ele ainda é compartilhado entre produtivos e financistas. Lembrando que a JBS reconheceu que pagaria entre 3 a 5 milhões por voto pelo impedimento de Dilma Rousseff. Afinal, como já vimos pelas cifras, dinheiro é solução destes agentes para transformar políticos em subservientes dóceis para alienar a representação da nação.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Odebrecht, a República Nova é sua

Uma das maiores alegrias de ser professor ou pesquisador é quando o aluno ou a criatura (pesquisa) superam o nome do mestre. É o que vemos na operação Lava Jato, a criatura está a superar os criadores. Elaborada, possivelmente, como uma das maiores farsas, da nossa história brasileira, de combate a corrupção, ela avança e se torna quase incontrolável pelos seus atores ao se espraiar por vários partidos .
A história de combate a corrupção tem capítulos celebres, recordarei apenas dois emblemáticos e fazem parte da memória coletiva do mais do mesmo no Brasil. A primeira a do jingle “varre, varre, vassourinha, varre a corrupção” da Campanha de Jânio Quadros, em 1960. A outra, do caçador dos marajás Fernando Collor de Mello (1990 – 1992). Não é preciso dizer que estes projetos ocultavam interesses outros.
Talvez uma das maiores permanências em nossa história político-partidária seja a corrupção e farsa de combate a mesma. Mas, o tom de denúncia varia conforme os interesses e o modelo de denúncia de acordo com a época.
O ponto a que chegou a Lava Jato, com a lista de 108 nomes do Ministro Edson Fachim, fez com que os denunciadores se tornassem possíveis réus. As denúncias abundam contra os principais opositores, o PSDB e o PMDB, do Partido dos Trabalhadores, alvo primordial da investigação.
Engolidos pelo próprio projeto e a denúncia não cessa e neste ponto duas falas dos Odebrecht fizeram ouvir o rugido do leão pelas planícies da política e pelas tocas dos partidos. A primeira de que não há candidato e/ou campanha sem caixa dois; e, a segunda, de que o dinheiro da Odebrecht irrigava os projetos de políticos desde a década de 1980.
A diferença da década de 1980 para o século XXI é que na primeira etapa a corrupção era viabilizada pelas obras locais aos políticos da nação e, no século XXI, foi construído um departamento para garantir a “lisura” do imposto de renda, o Departamento de “Operações Estruturadas”. Recordo que operações estruturadas diz respeito a combinação de instrumentos financeiros para potencializar oportunidades no mercado e minimizar os riscos financeiros. Não por acaso uma das rubricas de pagamento de propina era “concessões e privatizações” que tanto marcaram a presidência do PSDB e do PT.
Neste quadro retornamos ao último Presidente da Ditatura civil-militar João Figueiredo (1979-1985) e chegamos aos dias atuais. De um projeto que era negociado no plano local com o nacional passamos para a Organização do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht negociando com os políticos da nação. Esta a marca da República Nova.
Mas, mais que isto, é bom pensar na pujança da farsa que engole o criador. De projeto restrito a denúncia do Partido que naquele momento histórico controlava e explorava a nação, o PT. Passa engolir o denunciante, PSDB, e principal favorecido, o PMDB, que se tornaram aliados em favor do capital que não mais se contentava com concessões e privatizações, “apenas”.
Neste quadro chegamos ao marco do aniversário do Impedimento da Presidenta Dilma Roussef (2011-2016), dia 17 de abril, que foi em boa medida financiado pelos partidos e pela FIESP e demais instituições congêneres aliadas que hora são engolidos pelo seu projeto de poder via judiciário em meio às panelas da classe média anti-petista. Abordamos ao primeiro ano do Impedimento com uma certeza, a grande vitoriosa nestes anos de República Nova Democrática foi a rubrica “concessões e privatizações” com o nome de projeto neoliberal via Organização Odebrecht na trajetória do pai e do filho, onde a Constituição Cidadã, 1988, foi um tropeço no percurso histórico.

Não se revezaram no poder partidos políticos, entre eles com destaque para o PSDB, PT e PMDB. Mas, vimos a permanência da Odebrecht no controle dos representantes do poder de Estado. Assim, cabe a pergunta se a Odebrecht mantinha o controle da “Ordem e Progresso” qual instituição que teria financiado a tomada do poder com o impedimento da presidenta Dilma Roussef e a conseguinte “amenização” do poder da Odeberecht na República? Qual seria a empresa que se beneficia com a “saída” da Odebrecht da cena dominante política da propina? Seriam as Igrejas Evangélicas e seu baixo clero parlamentar visto que parte significativa dos membros da Lava jato são desta ética religiosa? E aí, você ainda tem um político corrupto favorito e continua batendo panelas seletivamente contra a corrupção? Ou já percebeu que os políticos do País tendem a não ter valores, mas, antes de tudo, preço sendo mercadoria comprada pelo capital?
Seja como for a Constituição Cidadã é que está em jogo com todos os direitos que consagrou. O poder do capital não se contenta mais “simplesmente” com as concessões e privatizações”, agora exigem o fim dos direitos trabalhistas, via reformas da Previdência, Trabalhista e Terceirização; e reforma político-eleitoral para expurgar os grupos sociais em ascensão que cada vez elegem mais representantes . Mas, o ponto em questão é a Constituição que deverá ser abalada a ponto de se convocar uma nova constituinte que não deixe parar dúvida de que entramos em um novo momento história da República que busca no judiciário a legitimação de seus projetos de ampliação da dominação, controle e exploração do que foi um dia a cidadania.
A república que de nova nada tem sendo mais a República da Cloaca ou a República do Caixa 2 a serviço do capital via saque do dinheiro público encontra uma fala basilar do que sempre foi e ainda quer ser. A fala singular do Presidente em exercício Michel Temer: “Deixarei o judiciário trabalhar”. Esta frase foi dita em resposta a um repórter que perguntou, em voz alta, ao presidente em exercício, como ficava a situação do País e de seus Ministros denunciados  com a Lista de Fachin.

Ora, Senhor Sresidente, pelo que sabemos ainda estamos em um República Democrática, visto que a versão de golpe é negada pelo poder instituído. Destarte, se os poderes são separados não vos cabe deixar o Judiciário trabalhar. É dever de autonomia do mesmo processar o caso. Vossa Excelência não está acima da lei, embora para garantir os interesses do Capital tenha retirado direitos históricos da nação via discurso do medo com apoio do Congresso, se posicionando acima da sociedade e dizendo que o congresso, digo o projeto vencedor via impedimento, não pode parar, apesar da criatura engolir o criador.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Temer temerariamente contra as mulheres do século XX e XXI

Que Temer é um conservador não há o que discutir. O que o Dia Internacional das Mulheres desvelou é que ele é mais que isto, é um retrógrado. Ou para, além disto, ele tem problemas quanto a questão é mulher independente, livre e emancipada que a Constituição de 1988 tornou uma realidade legal, respondendo as demandas feministas por uma realidade de paridade de poderes entre homens e mulheres no espaço público e privado. Talvez isto tenha haver com sua origem étnica.
A matéria da Revista Veja, de abril de 2016, com o título “Bela, recatada e do ´lar`” era um prenúncio do que assistiríamos a partir do Impedimento da Presidenta Dilma Roussef no que diz respeito a questão da mulher e do feminino. De lá para cá temos descido ladeira abaixo no que diz respeito às políticas públicas e ao empoderamento das mulheres e a problemática das violências que sofrem: econômica, política, social, simbólica entre outras além da invisibilização de dados patrocinada pelo Estado.
O projeto de redução da visibilidade da mulher iniciou-se pela nomeação dos ministérios, todos homens e apenas um homossexual assumido, o que fez alguns pensarem equivocadamente que ele seria um gay-friendly. Mas, este aparato de Estado ainda era pouco para conter os avanços das últimas décadas democráticas. Bem mais que isto, era preciso um projeto arrojado de exclusão da mulher, do feminino e dos pobres, de modo geral.
Para tanto se tornou necessário o controle das mentes e para isto a reforma do ensino com a transformação das disciplinas obrigatórias de Sociologia, Filosofia e História, principalmente, em conteúdos transversais faz parte do modelo “patriarcal” de poder. Estas disciplinas têm o poder de contextualizar e interpretar o poder, o capitalismo e as políticas e, para além disto, seus conteúdos com a visão de baixo, dos excluídos, dos invisibilizados podiam tornar possível a tomada de consciência de homens e mulheres sobre a violência de gênero retomada como estratégia de controle, exploração e dominação, tema tão temido por conservadores, retrógrados e legitimados por várias igrejas e crenças sociais misóginas.
Inviabilizar a reflexão sobre a questão da mulher e do feminino, e não apenas, mas, também do negro e outros excluídos do poder, como LGBTTT, fez-se urgente nesta ideação de poder masculino e branco.

A cereja da concepção retrógrada foi a fala do Presidente em homenagem a mulher no seu Dia Internacional de luta pela igualdade de gênero. Os afazeres domésticos, com destaque para as compras no supermercado, são uma das maiores contribuições da mulher à sociedade e ao Estado, disse o presidente TEMERário.
Não seria preciso criticar isto se não fosse poucos entre os dominados que com ele acordaram, inclusive a Primeira Dama por introjetar o dominador como certo, bom e valente, eufemismo para violento.
Tempos Temerários nos cercam e a questão da mulher e do feminino é apenas um em meio a um plano de exclusão sem precedentes na História Republicana Democrática do Brasil para consolidar a exploração capitalista. O verdadeiro ideal que os move é o patriarcal escravocrata com salários baixos e trabalho até a morte associados a privilégios de Estado, a famigerada estadania tão idolatrada no Brasil burocrático patrimonialista.

E. como se não bastasse o desenho nacional misógeno encontrou um parceiro forte em Donald Trump nesta visão reacionária que se diz, no púbico, para salvar os pobres da miséria, vemos um processo organizado de retomada do poder pelo tradicional dominador: o homem, branco, heterossexual.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Meu corrupto favorito ou o Brasil de sempre manda lembranças

Chegamos a um ponto no Brasil que o passado é mais presente que o futuro desejado pelas massas que aspiram cidadania, justiça e transparência e são transformados a fórceps em consumidores comuns, se tanto.
Quase invariavelmente, parte significativa das elites históricas do País estiveram ligadas ou mantidas no poder pela criminalidade. Palavras e conceitos pomposos foram destilados para manifestar, e simultaneamente ocultar aos iletrados, a corrupção em suas nuances: mandonismo, coronelismo, filhostismo, compadrio, clientelismo entre tantas outras formas assumidas pela devassidão do uso privado do que deveria ser público. Enfim, uma amarra sem fim com a criminalidade corrupta e corruptora do poder e do dinheiro públicos. Uma forma histórica de privatização que agora se torna lema do neoliberalismo.
Manifestações que eclodiram no Brasil, em junho de 2013, e que questionavam o aumento de vinte centavos na tarifa, rapidamente se transformaram em denuncia sistemática da corrupção e da transformação do cidadão em consumidor. A cidadania demandava direitos sociais e questionava a qualidade dos serviços públicos em precarização diante da corrupção e o modo de fazer política tradicionalmente no Brasil, ou seja, pessoalizada e corrupta no uso privado da República..
A mensagem era clara, Dilma experimentava queda na aprovação de seu governo e a oposição, ávida por poder há mais de uma década, iniciou uma inovação sem precedentes no modo de fazer política, mas herdeiro do modo Collor de caçar marajás, pela honestidade na política. Era a caça aos políticos não mais feita por militares, mas por juízes e promotores que, ao que tudo indica até aqui, foram seletivos nas denúncias e investigações.
Estes senhores da toga que, apesar da questão da transparência, permanecem com salários e benefícios sob sigilo, na grande maioria, mas, ganhando mais que o limite legal, foram trazidos à frente de batalha pela campanha pela honestidade, transparência e prestação de contas. Assim, descartavam-se os aliados tradicionais na manutenção do topo da pirâmide, o padre, pelo pastor; o policial e o delegado estadual, pelo plano federal, preferencialmente por juízes.
A massa cheirosa foi às ruas capitaneada por movimentos que se diziam sociais, mas, eram apêndices de partidos de “direita” e da classe dominante, que se diziam preocupados com o modo de fazer política corrupta. A batalha contra a corrupção fez o nome de juízes federais, passando pelo STF, serem conhecidos e discutidos por um circulo muito mais amplo que o jamais visto no País. E, as poucas cortes que não tinham suas sessões televisionadas ficaram gratas por não serem expostas ao vexame do projeto em curso.
Nos aproximamos do aniversário do Impedimento da Presidenta Dilma Rousseff com a evidência de que os que tomaram o poder não eram melhores no quesito que acusavam a derrotada e seu partido. Mas, o projeto fundamental se mantinha. A elite não pagaria o pato das custas financeiras da crise política-econômica defragada pela luta contra a corrupção, mas, atergiversação entre dinheiro público e patrimônio privado perpetuaria-se, mesmo que para isto tivessem que sacrificar alguns dos homens mais ricos da América Latina: Marcelo Odebrecht e o ex-Super X, Eike Batista.
A autofagia se tornou necessária e não poucos seriam sacrificados do pequeno circulo do poder em nome da manutenção da ordem tradicional mascarada de transformação histórica sem precedentes. Tudo ia bem enquanto isto atingia seletivamente o PT e seus financiadores. Mas, não tocava os que tomaram o poder e seus aliados e financiadores que desejavam que o povo pagasse o pato da crise.
Assim, coube a Temer reestruturar a posição planetária do Brasil em meio ao neoliberalismo. Deixar a mão de obra brasileira mais barata e longeva para a exploração internacional é a marca do governo. Reforma da previdência, da educação e trabalhista se incumbirão disto transferindo a conta para o povo trabalhador – inclui você com patrimônio menor que cinco milhões – ao mesmo tempo que liberará recursos públicos para serem emprestados como investimento subsidiado ao verdadeiros multimilhonários do Brasil e do exterior.
Todavia, é um governo que tem pressa. Tudo a toque de caixa: primeiro, por estar limitada a dois anos – se mantida a ordem constitucional; segundo, imprime velocidade por medidas provisórias, uma infinidade se comparada aos antecessores; terceiro, quer fazer dos juízes e promotores os candidatos ou apoiadores virtuais das próximas eleições pela construção de narrativas jurídicas do social e do político, deixando para o passado médicos e comunicadores sociais.
Todavia, teriam de combinar com os russos, digo, com os delatores. Nem entro na questão de quem é o novo financiador de votos que torna possível o azeitar da máquina com recursos e cargos. Seja como for o ponto que nos encontramos é o do “meu corrupto favorito”. Ou seja, os meus e os que apoio ideológicamente são honestos e inocentes até que se prove o contrário materialamente; e os seus e seus aliados são corruptos notórios e culpados por indução de testemunho, colaborativo.

Mas, citando André Perfeito, um dos entrevistados por várias vezes pela Globo News, como explicar que “Um processo é movido por um partido para impugnar a chapa rival por uso de caixa 2 e o inquérito descobre que o partido que moveu o processo recebeu caixa 2 e que o atual presidente, vice da chapa rival que foi acusada inicialmente por aquele partido, recebe hoje apoio do partido que moveu o processo sendo que se for provado que houve caixa 2 na chapa rival cai o governo onde o partido inicial tem ministros de estado.”
Coisas do velho Brasil, da velha política fazendo o futuro do País em conformidade aos interesses do grande capital no presente, que mesmo defenestrado, continua no poder e não pagará o pato. Mas, os que seguiram o pato de borracha amarelo na rua não ficarão infensos ao pagamento compulsório. E, pior, a escravização é tamanha, em louvor e defesa do capital do mercado, que nem de seus próprios filhos têm piedade, jogando-os à previdência privada – que tende a falir no futuro – transformando mais um direito de cidadania em serviço.
Mas, culpado é quem mostra ao escravizado que ele encontra-se na situação de escravizo. Ou que seu corrupto favorito também é um reles corrupto, apesar do português hermético da ciência e das leis dos crimes de colarinho branco feitos na imensa maioria por homens e mulheres brancos.

Para fechar basta lembrar o relato colaborativo de Marcelo Odebrecht esta semana de que repassou, por meio de caixa dois, para as campanhas do PSDB, Aécio Neves, que pede a cassação da chapa no poder; de Eduardo Campos e Marina Silva, então do PSB. E, o mensalão do outro partido seletivamente fica no fundo da gaveta enquanto a Lava Jato segue.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Projeto neoliberal e o retorno à situação análoga a escravização no século XXI

Um amigo neoliberal indiano de Perry Anderson, então consultor do Banco Mundial, disse-lhe, em 1987, no Rio de Janeiro, que o problema do Brasil na presidência de José Sarney (1985-1990) não era a taxa de inflação alta, mas a falta de uma hiperinflação que rompessem os diques sociais para que o povo se submetesse a medidas drásticas deflacionárias: o neoliberalismo.
A política contra a inflação notabilizou-se nos governos seguintes, de Fernando Collor (1990-1992), passando por Itamar Franco (1992-1995) a Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) com agendas que defendiam reformas de tendência neoliberal. Reforma era a palavra mágica que parecia tornar o Brasil o Eldorado do novo século para os investidores, palavra dócil para exploradores de oportunidades altamente lucrativas e que se iniciou com a celebre frase de Collor de que o carro no Brasil era uma carroça. Estava dada a largada para modernização neoliberal via “abertura” de fronteiras à globalização.
Com Fernando Henrique Cardoso a inflação enfim estava “controlada”, fato recorrente em diversos outros países à época, como o Peru que tinha uma inflação superior a 1000%, mas para mantê-la nos níveis desejados, as reformas neoliberais deveriam avançar ainda que lentamente em meio ao processo democrático – um luxo histórico para o Brasil e, grosso modo, para a América Latina. Muitos chegaram a se perguntar se as reformas empreendidas por FHC teria posto no passado o Estado de Vargas que organizou as leis trabalhistas num período que o mesmo ocorria em várias outras nações. Hoje a resposta é clara.
Para postergar a aceleração destas reformas o povo foi ás urnas e sufragou Luís Inácio Lula da Silva (2003-2011) e Dilma Roussef (2011-2016). Ao menos no discurso estes não era neoliberais, mas, também eram liberais, ainda que de tendência “keynesiana”. Todavia, a inflação foi se impondo, no mesmo momento em que ocorria a inflexão da crise internacional que estourou em 2008. O Brasil não tinha como sobreviver tão largo tempo sem o apoio internacional. Como diria FHC acadêmico, sinal de nossa dependência.
Como se isto não bastasse a derrota da elite neoliberal nas últimas eleições nacionais fez com que o ressentimento crescesse e o País se manteve dividido após as eleições. A parcela da elite que se via cada vez mais posta a margem do poder de Estado não conseguira, fazendo o discurso da legalidade, da transparência e da honestidade os votos necessários. Foi obrigada a recorrer ao povo em larga escala, mesmo a contra gosto, ainda que momentaneamente.
As manifestações surgiram solicitando melhorias nos serviços públicos. Multiplicaram-se numa enxurrada diante do Estado e um governo incapazes de resolverem as demandas, em 2013. Mas, ainda faltava um amalgama que unisse as manifestações de modo concertado. O ritmo foi obtido pelas mãos da governante Dilma Roussef que sancionou a Lei 12.850/2013 – Delação Premiada. Neste ponto Dilma pode ser comparada a Princesa Izabel que ao libertar os escravizados assinou a pena de morte do Império.
Foi impossível ao governo manter-se no poder diante de tantas denúncias reiteradas face ao discurso fácil da oposição de honestidade na coisa pública ao mesmo tempo em que acenavam ao povo com vantagens que lhes eram negadas pelos liberais Lula e Dilma. As pautas bombas foram num crescendo deslegitimando o papel da Presidenta e o maior aceno dado ao povo que ia para as ruas foi a reforma da previdência com a “regra 85/95 progressiva”, em novembro de 2015.
Fazia-se o jogo das sombras. Desequilibrava os cofres do governo ao favorecer a incapacidade de controle da inflação em meio a produção da crise política e aos avanços da Lava Jato, ao mesmo tempo que dava ao povo a impressão de que poderiam ser bem mais benfazejos a estes.
Ledo engano. A produção da crise tinha por alvo o retorno ao neoliberalismo. Se a inflação sozinha não dera condições ao avanço pleno destas reformas, (com Sarney) a crise sem precedentes históricos de um congresso contrário a presidência da República de Dilma, aprovando Leis que desestabilizam o País parecia ser o caminho.
O Impedimento da Presidenta era uma necessidade urgente diante da agenda da elite no ostracismo do poder de Estado e de suas verbas e congraçamentos em nome da honestidade e dos direitos do povo.
Uma vez no poder Michel Temer (2016) logo tentou revelar-se acima da sociedade, desligando-se do povo dos movimentos que o promoveram à presidência ao dizer que popularidade não era uma de suas preocupações.
E de fato tem dado provas disso ao nomear tantos ou mais investigados que os do período anterior. O discurso da honestidade, da transparência e dos direitos do povo caíram por terra e deram lugar a “Razão de Estado” a serviço dos grandes investimentos internacionais e acima da sociedade.

Assim, aquilo que os uniu ao povo agora é um empecilho histórico: direitos trabalhistas e previdência. Reforma-los passou a ser o centro da agenda pondo uma pá de cal na quimera do 85/95, mas mais que isto colocar o povo de baixo de tal jugo que a morte será mais certa, sobretudo no norte e nordeste – locais que decidiram as eleições pró Dilma – do que o paraíso da aposentadoria que garantia não o estar aposentado, mas, antes, a configuração de renda suficiente para a família.

O que a inflação não fez, a crise política com os discursos do ódio e do medo parecem ter tornado possível, o regresso a Lei do Sexagenário... via reformas do Estado.