segunda-feira, 20 de março de 2017

Temer temerariamente contra as mulheres do século XX e XXI

Que Temer é um conservador não há o que discutir. O que o Dia Internacional das Mulheres desvelou é que ele é mais que isto, é um retrógrado. Ou para, além disto, ele tem problemas quanto a questão é mulher independente, livre e emancipada que a Constituição de 1988 tornou uma realidade legal, respondendo as demandas feministas por uma realidade de paridade de poderes entre homens e mulheres no espaço público e privado. Talvez isto tenha haver com sua origem étnica.
A matéria da Revista Veja, de abril de 2016, com o título “Bela, recatada e do ´lar`” era um prenúncio do que assistiríamos a partir do Impedimento da Presidenta Dilma Roussef no que diz respeito a questão da mulher e do feminino. De lá para cá temos descido ladeira abaixo no que diz respeito às políticas públicas e ao empoderamento das mulheres e a problemática das violências que sofrem: econômica, política, social, simbólica entre outras além da invisibilização de dados patrocinada pelo Estado.
O projeto de redução da visibilidade da mulher iniciou-se pela nomeação dos ministérios, todos homens e apenas um homossexual assumido, o que fez alguns pensarem equivocadamente que ele seria um gay-friendly. Mas, este aparato de Estado ainda era pouco para conter os avanços das últimas décadas democráticas. Bem mais que isto, era preciso um projeto arrojado de exclusão da mulher, do feminino e dos pobres, de modo geral.
Para tanto se tornou necessário o controle das mentes e para isto a reforma do ensino com a transformação das disciplinas obrigatórias de Sociologia, Filosofia e História, principalmente, em conteúdos transversais faz parte do modelo “patriarcal” de poder. Estas disciplinas têm o poder de contextualizar e interpretar o poder, o capitalismo e as políticas e, para além disto, seus conteúdos com a visão de baixo, dos excluídos, dos invisibilizados podiam tornar possível a tomada de consciência de homens e mulheres sobre a violência de gênero retomada como estratégia de controle, exploração e dominação, tema tão temido por conservadores, retrógrados e legitimados por várias igrejas e crenças sociais misóginas.
Inviabilizar a reflexão sobre a questão da mulher e do feminino, e não apenas, mas, também do negro e outros excluídos do poder, como LGBTTT, fez-se urgente nesta ideação de poder masculino e branco.

A cereja da concepção retrógrada foi a fala do Presidente em homenagem a mulher no seu Dia Internacional de luta pela igualdade de gênero. Os afazeres domésticos, com destaque para as compras no supermercado, são uma das maiores contribuições da mulher à sociedade e ao Estado, disse o presidente TEMERário.
Não seria preciso criticar isto se não fosse poucos entre os dominados que com ele acordaram, inclusive a Primeira Dama por introjetar o dominador como certo, bom e valente, eufemismo para violento.
Tempos Temerários nos cercam e a questão da mulher e do feminino é apenas um em meio a um plano de exclusão sem precedentes na História Republicana Democrática do Brasil para consolidar a exploração capitalista. O verdadeiro ideal que os move é o patriarcal escravocrata com salários baixos e trabalho até a morte associados a privilégios de Estado, a famigerada estadania tão idolatrada no Brasil burocrático patrimonialista.

E. como se não bastasse o desenho nacional misógeno encontrou um parceiro forte em Donald Trump nesta visão reacionária que se diz, no púbico, para salvar os pobres da miséria, vemos um processo organizado de retomada do poder pelo tradicional dominador: o homem, branco, heterossexual.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Meu corrupto favorito ou o Brasil de sempre manda lembranças

Chegamos a um ponto no Brasil que o passado é mais presente que o futuro desejado pelas massas que aspiram cidadania, justiça e transparência e são transformados a fórceps em consumidores comuns, se tanto.
Quase invariavelmente, parte significativa das elites históricas do País estiveram ligadas ou mantidas no poder pela criminalidade. Palavras e conceitos pomposos foram destilados para manifestar, e simultaneamente ocultar aos iletrados, a corrupção em suas nuances: mandonismo, coronelismo, filhostismo, compadrio, clientelismo entre tantas outras formas assumidas pela devassidão do uso privado do que deveria ser público. Enfim, uma amarra sem fim com a criminalidade corrupta e corruptora do poder e do dinheiro públicos. Uma forma histórica de privatização que agora se torna lema do neoliberalismo.
Manifestações que eclodiram no Brasil, em junho de 2013, e que questionavam o aumento de vinte centavos na tarifa, rapidamente se transformaram em denuncia sistemática da corrupção e da transformação do cidadão em consumidor. A cidadania demandava direitos sociais e questionava a qualidade dos serviços públicos em precarização diante da corrupção e o modo de fazer política tradicionalmente no Brasil, ou seja, pessoalizada e corrupta no uso privado da República..
A mensagem era clara, Dilma experimentava queda na aprovação de seu governo e a oposição, ávida por poder há mais de uma década, iniciou uma inovação sem precedentes no modo de fazer política, mas herdeiro do modo Collor de caçar marajás, pela honestidade na política. Era a caça aos políticos não mais feita por militares, mas por juízes e promotores que, ao que tudo indica até aqui, foram seletivos nas denúncias e investigações.
Estes senhores da toga que, apesar da questão da transparência, permanecem com salários e benefícios sob sigilo, na grande maioria, mas, ganhando mais que o limite legal, foram trazidos à frente de batalha pela campanha pela honestidade, transparência e prestação de contas. Assim, descartavam-se os aliados tradicionais na manutenção do topo da pirâmide, o padre, pelo pastor; o policial e o delegado estadual, pelo plano federal, preferencialmente por juízes.
A massa cheirosa foi às ruas capitaneada por movimentos que se diziam sociais, mas, eram apêndices de partidos de “direita” e da classe dominante, que se diziam preocupados com o modo de fazer política corrupta. A batalha contra a corrupção fez o nome de juízes federais, passando pelo STF, serem conhecidos e discutidos por um circulo muito mais amplo que o jamais visto no País. E, as poucas cortes que não tinham suas sessões televisionadas ficaram gratas por não serem expostas ao vexame do projeto em curso.
Nos aproximamos do aniversário do Impedimento da Presidenta Dilma Rousseff com a evidência de que os que tomaram o poder não eram melhores no quesito que acusavam a derrotada e seu partido. Mas, o projeto fundamental se mantinha. A elite não pagaria o pato das custas financeiras da crise política-econômica defragada pela luta contra a corrupção, mas, atergiversação entre dinheiro público e patrimônio privado perpetuaria-se, mesmo que para isto tivessem que sacrificar alguns dos homens mais ricos da América Latina: Marcelo Odebrecht e o ex-Super X, Eike Batista.
A autofagia se tornou necessária e não poucos seriam sacrificados do pequeno circulo do poder em nome da manutenção da ordem tradicional mascarada de transformação histórica sem precedentes. Tudo ia bem enquanto isto atingia seletivamente o PT e seus financiadores. Mas, não tocava os que tomaram o poder e seus aliados e financiadores que desejavam que o povo pagasse o pato da crise.
Assim, coube a Temer reestruturar a posição planetária do Brasil em meio ao neoliberalismo. Deixar a mão de obra brasileira mais barata e longeva para a exploração internacional é a marca do governo. Reforma da previdência, da educação e trabalhista se incumbirão disto transferindo a conta para o povo trabalhador – inclui você com patrimônio menor que cinco milhões – ao mesmo tempo que liberará recursos públicos para serem emprestados como investimento subsidiado ao verdadeiros multimilhonários do Brasil e do exterior.
Todavia, é um governo que tem pressa. Tudo a toque de caixa: primeiro, por estar limitada a dois anos – se mantida a ordem constitucional; segundo, imprime velocidade por medidas provisórias, uma infinidade se comparada aos antecessores; terceiro, quer fazer dos juízes e promotores os candidatos ou apoiadores virtuais das próximas eleições pela construção de narrativas jurídicas do social e do político, deixando para o passado médicos e comunicadores sociais.
Todavia, teriam de combinar com os russos, digo, com os delatores. Nem entro na questão de quem é o novo financiador de votos que torna possível o azeitar da máquina com recursos e cargos. Seja como for o ponto que nos encontramos é o do “meu corrupto favorito”. Ou seja, os meus e os que apoio ideológicamente são honestos e inocentes até que se prove o contrário materialamente; e os seus e seus aliados são corruptos notórios e culpados por indução de testemunho, colaborativo.

Mas, citando André Perfeito, um dos entrevistados por várias vezes pela Globo News, como explicar que “Um processo é movido por um partido para impugnar a chapa rival por uso de caixa 2 e o inquérito descobre que o partido que moveu o processo recebeu caixa 2 e que o atual presidente, vice da chapa rival que foi acusada inicialmente por aquele partido, recebe hoje apoio do partido que moveu o processo sendo que se for provado que houve caixa 2 na chapa rival cai o governo onde o partido inicial tem ministros de estado.”
Coisas do velho Brasil, da velha política fazendo o futuro do País em conformidade aos interesses do grande capital no presente, que mesmo defenestrado, continua no poder e não pagará o pato. Mas, os que seguiram o pato de borracha amarelo na rua não ficarão infensos ao pagamento compulsório. E, pior, a escravização é tamanha, em louvor e defesa do capital do mercado, que nem de seus próprios filhos têm piedade, jogando-os à previdência privada – que tende a falir no futuro – transformando mais um direito de cidadania em serviço.
Mas, culpado é quem mostra ao escravizado que ele encontra-se na situação de escravizo. Ou que seu corrupto favorito também é um reles corrupto, apesar do português hermético da ciência e das leis dos crimes de colarinho branco feitos na imensa maioria por homens e mulheres brancos.

Para fechar basta lembrar o relato colaborativo de Marcelo Odebrecht esta semana de que repassou, por meio de caixa dois, para as campanhas do PSDB, Aécio Neves, que pede a cassação da chapa no poder; de Eduardo Campos e Marina Silva, então do PSB. E, o mensalão do outro partido seletivamente fica no fundo da gaveta enquanto a Lava Jato segue.