O projeto
conservador cristão é eminentemente patrialcal e revela o emaranhado de
armadilhas conceituas que pululam nas mentes ocidentais. Vítimas de si próprios,
pensam um mundo que não deveria existir mais, pois baseado na retirada de
oportunidades de igualdade para todos e todas.
Uma destas
armadilhas conceituais pode ser vista no desfecho do processo que inocentou as
esposas de Eduardo Cunha e Sérgio Cabral, respectivamente Cláudia Cruz e
Adriana Ancelmo. O mote da absolvição orbita ao redor da definição e das
tradições patriarcais que chegam ao século XXI não mais no formato da lei, do
Estado, mas no imaginário e nas representações dos funcionários do Estado que
dizem ser isentos.
Na mente
patriarcal cabe ao marido, enquanto provedor, a tudo dominar, controlar e
explorar indo dos animais, passando pelos empregados (onde o abuso sexual é uma
prática reinventada de geração em geração), filhos à esposa e demais dependentes.
Todos devidamente subjugados pelo poder do macho, mantenedor da ordem e dos
costumes em conformidade aos padrões morais dominantes, tradicionais e
tradicionalistas, legitimado socialmente, não mais pelo aparato legal, de forma
explícita, mas pelo poder do imaginário e das representações sociais que se articulam
em verdadeiras armadilhas conceituais que oprime às minorias nas formas das
práticas discursivas.
Mas, apenas
dominar, controlar e explorar levaria à união das minorias contra a maioria opressora
e controladora. Cabe dividir as minorias para governa-las e expropria-las e
faz-se isto com diferentes formas de benesses aos que se subjugam ás práticas
culturais patriarcais: da distinção social ao salário.
Neste ponto
Adriana Ancelmo e Cláudia Cruz interpretaram seu papel social esperado pelo
projeto conservador em curso no país, e que tem no anti-petismo apenas um de
seus vértices. Mas, não apenas ou exclusivamente ali, mas por boa parte da toga
que ainda permanece machista, racista, sexista, homofóbica cometendo crimes
perfeitos, uma vez que, insuspeitos pelas mentes conservadoras que se fazem
surdas às denúncias das minorias do arcabouço doutrinário dominador e controlador.
Vejamos alguns
crimes perfeitos: 1- Foi necessária a Lei Maria da Penha para minimizar a
opressão do assassinato sistemático de esposas, amantes, namoradas e noivas.
Minimizou, mas não resolveu. A mentalidade patriarcal continua grassando nos nas
mentes dos que julgam e amenizam as penas. 2- Nem com a Lei do Crime de Racismo
se extirpou tal prática do cotidiano e do judiciário. A reinterpretação
sistemática da lei em favor dos que se consideram brancos, em meio à
latinidade, abusando do colorismo como sistema de controle, fez com que só
houvesse condenados por injuria racial no Brasil. 3- O assassinato sitemático
de LGBTTT ainda não reconhecido pelo Estado na forma da lei parece compactuar
com a licença para matar LGBTTTT tornando o Brasil campeão de mortes destes
cidadãos.
Imbuídas desta
mentalidade as esposas de Cunha e Cabral – e bem orientadas pela defesa que
conhece as mentalidades conservadoras e patriarcais das togas – as colocaram
para depor em meio a atuação da persona da boa esposa, da boa dona de casa, da
mulher submetida ao poder do macho no papel de marido e provedor. Como abafaram-se,
de bom grado, a penitência pública de igualarem-se às mulheres de classe média
pré-feminismo, foi lhes concedido o beneplácito das vítimas que se subjugam ao
projeto conservador patriarcal em curso. Este devota papel especial a mulheres
“Bela, recatada e do lar” o espaço privado sob o controle do macho.
A advertência
veio pelo ato de ostentar com gastos multimilionários o dinheiro que seria do
povo. Afinal, são todos cristãos e a caridade – e não as políticas públicas e
sociais – deve ser maior, no plano ideal da doutrinação e das culpas, que o
consumo como meio de legitimar o ordem opressora denunciada pela ostentação.